Criança tem cada uma ...


Quem tem criança sabe: A vigilância tem que ser constante.

Certa feita, morando ainda na Atalaia deixei as meninas, então com aproximadamente 01 ano e meio, aos cuidados de Eliana (Na época, era quem trabalhava comigo). Ela era ótima. É o que, comumente, chamamos de “doidinha legal”.

Eu precisava terminar um trabalho no computador e necessitava, para tanto, de total silêncio e sossego. Cheguei para a “doidinha” e falei:

- Eliana, você pode ficar um pouquinho com as meninas enquanto termino meu trabalho lá no quarto?

- Posso Lívia! – Disse a doidinha toda serelepe.

- Eliana, mulher... pelo amor de Deus, não vá embora sem me comunicar - já que era seu costume.

- Não deixe essas meninas sozinhas. Quando você quiser ir, me avise! – Insisti.

- Não se preocupe! – Disse ela.

Passada mais ou menos uma hora, o silêncio começou a me incomodar. Eliana não era uma pessoa adepta a isso. Geralmente se mostrava presente aos meus ouvidos com seus intermináveis diálogos ou monólogos.

Levantei-me para fazer uma ronda pelo apartamento no intuito de verificar se estava tudo bem, qual foi minha surpresa ao deparar-me com a porta de saída entreaberta e a grade que dava acesso à cozinha escancarada.

Ao me aproximar na cozinha, defrontei-me com uma cena, no mínimo, assustadora:

Ana Flávia e Ana Sofia parecendo dois fantasminhas, cada uma com um pacote de Cremogema vazio na mão, derramando uma sobre a cabeça da outra o que restava do pó adocicado, além de um litro de óleo despejado no chão.

Qual restou minha atitude, senão, rir daquilo tudo e lamentar o trabalho que eu estava prestes a executar.

Quanto à doidinha ... como de costume foi embora e mais uma vez, sem avisar.


O episódio da Negra-Lívia


Hoje resolvi escrever mais um pouquinho. Na verdade, quis me desligar por uns breves instantes da vida acadêmica e do jus enrolandi.

Estava hoje aqui em minha casa conversando com “mainha” e minha irmã (a quem apelidei há vários anos de “colega”). Mainha, recém chegada de viagem, trazia a resenha dos acontecimentos de Frei Paulo, deixando-me a par das novidades, dentre as quais, os comentários feitos por minha tia Ana e sua amiga Célia referentes as mudanças ocorridas em minha vida.

Assim que foram embora (mainha e colega), parei um pouco para refletir essas inúmeras transformações e concomitantemente, lembrei-me de vários episódios engraçados e dentre tantos, um me trouxe a vontade de escrever: A semana em que Lumma se hospedou em minha casa.

Lumma é uma das minhas primas mais novas. A quem tenho um enorme carinho. Filha de Tia Ana, tem 14 anos e é um amor de pessoa. Na verdade é pra mim uma mistura de amiga e filha. Seu único problema é a personalidade impulsiva que, por vezes faz com que a interpretem mal.

No início do ano de 2008 Lumma veio passar uma semana aqui em casa. Na época eu ainda morava na Atalaia (bem pertinho da praia). Neto estava viajando e pude dar total atenção a minha visita.

Foi uma semana inesquecível. Acho que nunca ri tanto em toda minha vida. Nós íamos à praia todos os dias, já que como citei, morava bem pertinho. Eu, branca como a neve, consegui ao final de uma semana ficar bronzeadíssima, rendendo-me o apelido de Negra-Lívia.

Além de nós duas, Ninha (minha vizinha) também nos acompanhava nesses banhos-de-sol matinais. O impressionante é que enquanto eu me bronzeava, Ninha avermelhava. Parecia um camarão. No último dia de praia, esta vizinha me ofereceu seu óleo bronzeador. Disse que minha cor iria ficar perfeita. Maldita esta hora.

Não sei onde estávamos com a cabeça. Eu e Lumma, mesmo vendo a cor de Ninha, resolvemos nos besuntar com o tal do óleo. Gente, eu me senti uma batata frita jogada em óleo fervendo. Pensei que minha pele iria se desfazer. Foi horrível!

Quando chegamos em casa já estávamos desesperadas. Lumma, coitada, não conseguia sequer abaixar os braços de tanto ardor. Passamos toda a tarde fazendo experimentos na pele. Pesquisei na internet receitas caseiras e lá fomos nós testar uma a uma para tentar amenizar essas queimaduras de terceiro grau (Já é exagero, mas deve ter sido de segundo).

Passamos tudo o que vocês possam imaginar: Leite de Magnésio, Clara de ovo, água gelada, Creme facial anti-rugas, além de termos acabado com todo o estoque de hidratantes. Lumma, menor que eu, sentou-se na piscina das meninas (Ana Flávia e Ana Sofia) e com um pequeno balde, refrescava-se na varanda, chamando atenção das pessoas que passavam. Eu passava a maior parte do tempo embaixo do chuveiro tentando diminuir o calor da pele.

Apesar da dor, não conseguíamos parar de rir. Era uma verdadeira tragicomédia. No outro dia já estávamos melhor, mas outra dessa...Deus me livre!

Até hoje, todas as vezes que encontro Lumma, rimos bastante lembrando esse episódio que, se depender de nossa vontade, jamais se repetirá!

A Descoberta da Gravidez


Sabe quando acontece determinada coisa na sua vida que você pensa: "Aí...Fudeu!"? - Foi assim que me senti no momento que soube que estava grávida.
A primeira sensação é de desespero, mas quando você descobre que são dois bebês (ao invés de um) a coisa é bem mais assustadora.
Pensa logo nos estudos, na ladainha interminável dos pais - isso quando eles são pessoas legais, quando não, o problema consegue ser ainda maior. Mas o pior de tudo é imaginar a reação do carinha que está nessa com você.
Depois que a ficha cai, e as lágrimas também, é hora de arregaçar as mangas e ir à luta: É chegado o momento de dar a devida publicidade ao evento.
...
Tudo bem, tudo bem,... eu sei. Falta ela: A coragem. Esta danada que teima em se esconder, justamente, nestas horas. Comecei como a maioria, com o pai do rebento (no meu caso, DOS REBENTOS).
Era uma sexta-feira, quando fui fazer a tal da ultrassonografia transvaginal. Foi neste dia que tive realmente a certeza que estava grávida e que eram dois. Pelo nome já dá pra imaginar o troço horrível que é. Estava lá no consultório, aquele cheiro forte que as clínicas têm. As atendentes passando de um lado pra o outro e eu tendo que sorrir a cada passada, apesar da ansiedade que me torturava naquele instante que parecia interminável. De repente ouço aquela voz: Sra. Lívia Maria.
O médico muito sorridente:
- Bom dia, sra. Lívia!
- Bom dia! – respondi educadamente.
- Pode tirar a parte de baixo e deitar-se na cama!
Meu Deus! Que coisa constrangedora! Aquela roupinha com a bunda aparecendo e a auxiliar dele me ajudando e eu completamente desajeitada e louca pra aquilo terminar.
Não sei, mas eu sempre achei aqueles aparelhos da medicina ginecológica semelhantes às máquinas de tortura da era medieval.
Enfim, começou o tal exame, que por sinal, extremamente constrangedor. O médico, então, parou e disse que não havia condições de continuar, pois o feto já estava bastante desenvolvido e que passaria para aquele mais convencional onde é feito na barriga, mesmo. Não sei senti um alívio pelo fim da tortura, ou um desespero ainda maior, já que eu descobrira que de fato estava grávida.
Enquanto passava aquela coisa fria e gelatinosa na minha barriga, ele começou a me fazer uma série de perguntas:
- Sua família já sabe?
- Não – Incrível como o nervosismo me deixa monossilábica.
- O pai da criança já sabe?
- Não.
- Mais você sabia que estava grávida, não?
- Mais ou menos. Eu suspeitava – pra não dizer que não queria acreditar.
- Mas foi uma gravidez planejada?
- Não.
- Então, foi uma surpresa?
- É, né?
- Ah! Então quer dizer que foi uma surpresa?
- Foi.
- Então vou te dar outra notícia: Não é um, não. São dois.
Gente do céu. Não dá pra descrever a sensação. Graças a Deus eu estava deitada, do contrário, tinha desmaiado. Eu chorava copiosamente. O médico, coitado, preocupado, tentava me consolar com aquelas frases feitas: “Sua família vai adorar”, “No início podem levar um susto, mas depois todo mundo aceita”, “Seus pais vão ficar loucos quando nascerem”. Nada. Nada me fazia parar de chorar.
Tinha vontade de gritar, de sair correndo, mas tive que me conter e apenas saí chorando e diga-se de passagem, muito.
Fui então para a casa do “papai” dar a “boa-nova”. Chegando na casa de Neto, deparei-me com ele ainda dormindo e delicadamente, comecei a esmurrar a porta do quarto para que ele abrisse.
Mal-humorado, mas não à toa, ele abriu e questionou-me o motivo do barraco matinal.
- Neto, tenho duas notícias para te dar: uma ruim e outra pior.
- Fale – disse o pobre coitado ainda com os olhos inchados de sono.
- Primeira: Estou grávida – esta ele já suspeitava e por isso não fez alarde.
- E a segunda?
- São dois.
- Dois??!! - disse como os olhos arregalados.

Se você acha que eu já chorei bastante, é porque, infelizmente não consigo descrever essa cena.

Eu mal conseguia abrir os olhos de tão inchados. Neto, coitado, tentava me consolar e ao mesmo tempo se consolar.

Quando o meu soluço cessava Neto repetia: - DOIS??!! – E eu, novamente voltava a chorar.

Até que chegou o fim do dia e o das lágrimas. Fui, então para a Universidade, encontrar o “discreto” conforto dos meus amigos.